Eu fico doente todo final de período letivo, com a questão dos fechamentos de notas, gestores, alunos e pais culpando o professor quando algum aluno não alcança a média. Fico preocupado, nervoso, estressado, minha coluna e nervos sofrem demais nessas etapas de fechamento de notas. A ideia de justiça sempre é colocada em pauta:
1. Alunos que todas as tarefas, às vezes erram apenas uma questão e não tiram o 10 que tanto encantam pais e gestores;
2. Pais de alunos que tiram boas notas chutando as respostas de marcar, mesmo sem fazer as tarefas ou estudarem, são aplaudidos e a mudança não ocorre, porque "o importante é a nota" e não o processo ou a aprendizagem;
3. Os pais acreditam que se deixaram seus filhos "sob a responsabilidade do professor", é o professor que tem a responsabilidade de que ele tire boas notas;
4. Com o advento e a "imposição" das questões de marcar (objetivas) o professor passa a não ter mais o controle do que o aluno sabe, do que ele tem dúvidas, do que chutou e acertou ou se sequer o aluno leu a questão;
5. Com a lógica que todo conteúdo precisa ter um exercício, o professor se sobrecarrega para corrigir e não há outra opção a não ser focar em questões objetivas;
6. O professor deve colocar o controle de dados e informações acima do que o controle da aprendizagem, uma vez que se concentrar em possibilidades e oportunidades para o aluno aprender (aqueles que realmente querem aprender e não somente uma nota para passar) demanda tempo e a quantidade de dados que o professor trabalha (nota de avaliação por aluno/série/disciplina/intervenção/anotação no caderno ou no diário/tarefa feita por cada data/se fez a tarefa direito ou só respondeu de qualquer jeito/problemas socioemocionais dos alunos/diálogo com os pais/alunos que não enviam as tarefas há muito tempo/alunos que não enviaram uma ou outra tarefa, etc)
Bem, sei que a lista não pára aí. Tem outras questões como o tempo de trabalho sentado pra quem tem 110kg e hérnia de disco, tem a questão dos alunos que só entram em contato fora do horário de aula (durante a pandemia 2020/2021), barulhos em casa, falta de energia ou internet, visitas em horários de trabalho, etc.
Esse problema de "adoecer" com essa pressão não é algo novo. Quando fui caixa de supermercado acontecia o mesmo. Eu sempre fui de tentar dar o melhor de mim, mas algumas coisa fogem da minha capacidade intelectual. Mexer manualmente com dados ao mesmo tempo que está dando atenção a outras coisas (o caixa dá atenção aos clientes e produtos que estão sendo colocados no caixa ou sendo embalados. O professor dá atenção ao aprendizado do conteúdo ou o quesito de responsabilidade e ética ao mesmo tempo que precisa ter todos os dados, notas, avanços, dificuldades dos alunos etc) é algo que me faz sentir-me extremamente incapaz. Sem falar no sentimento de injustiça que não consigo dar uma resposta aos pais, já que realmente é a nota a moeda de troca, o pagamento para quem se dedica e quando não tem como garantir que os esforçados tirem a "nota que merecem pelo esforço" e os "descansados" ou "copiadores" não criem formas de tirar nota sem dominar o conteúdo ou ter participado do processo de aprendizagem (sei que isso parece bem tradicionalista, mas cheguei a conclusão que quem nega isso são os mesmos que são arbitrários quando alguém não segue as regras que "democraticamente são escolhidas" monocraticamente no inicio dos semestres acadêmicos e são eufeminimamente chamados de "tratados ou combinados", mas não passam de leis monocráticas impostas, porque realmente são necessárias, embora numa discussão mais ampla, pudessem ser construídas coletivamente desde que haja tempo suficiente para discutí-las como pauta ética e de cidadania (o que é muito raro acontecer, pois o foco perderia seu rumo).
Enfim, estamos chegando ao final do ano. Nem são tantos alunos assim que estão com notas baixas e na verdade era para o professor estar mega feliz. Final de ano os pais e alunos são interessados de uma forma que nos deixa muito admirados. Como fazer para esse interesse não se acumular nos finais de periodo? Como fazer para que entendam que cada conteúdo fará a diferença nos avanços e desenvolvimento do aluno seja na academia, seja na vida profissional, seja em processos seletivos/concursos/vestibulares? Acho que isso é muito difícil, pois o "sistema" tem robozinhos garantindo que as coisas sempre permaneçam como estão e que essa rotina já é "dominada" pelos professores de carreira e os novos professores só precisam de "calos" de experiência como já ouvi muitas vezes.
Me nego a desistir. Me nego a concordar, embora por vezes me auto avaliei e percebi que fui reprodutivista na maior parte das minhas aulas com raras fugas para o verdadeiro pensar. Espero um dia encontrar a saída para esse fluxo da vida do professor que deveria ter tempo e ferramentas mais agéis para organizar sua rotina e aulas.
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