Pular para o conteúdo principal

Fanzinando na BJN

Os alunos não querem criar só para ser visto pelos professores,  eles querem ser admirados em seus caprichos e criatividade,  de outra forma,  a escola é só um lugar de treinamento ríspido e repetitivo onde eu faço as coisas simplesmente porque estou aprendendo com a repetição ou para ser "avaliado" por um professor.
Eles querem que suas obras façam sentido,  que tenham importância não só para sua sala, mas que seja um produto consumível,  comunicativo,  vivo,  criativo,  jovem.

     Estou (2017) professor de Ciências Humanas (Geografia, História, Ensino Religioso) Fundamental II na Escola Bom Jesus na Reserva Extrativista Prainha do Canto Verde. Ainda curso pedagogia na UFC apesar dos já 7 anos dentro de ambientes universitários e nenhuma disciplina reprovada, são os desafios da vida. Nesse ano, ao cursar a disciplina de História da Educação (2017.2) conheci o trabalho de um grupo de fanzineir@s: a Zineteca, além dos exemplares disponibilizados como ferramenta didática na exposição dos seminários. Trouxe os exemplares que ganhei (3 unidades) na disciplina para a sala de aula como modelo para que as crianças vessem como é essa arte chamada Fanzine.
     O primeiro fanzine foi construído pela turma do 7º ano, aula de Geografia. Eu havia planejado para a aula, que os alunos pesquisassem sobre algumas histórias do folclore nacional, mas nesse dia durante minha aula, acabou a energia e não tinha como as crianças pesquisarem. Então foi a oportunidade de o fanzine entrar em nossa história. Os alunos foram provocados a criarem histórias e personagens folclóricos que defendessem a natureza. E assim eles fizeram...criaram o Florestador, o Tupiká, o Saci-Mar e a Curumangue (uma mistura de Vovó do Mangue com o Curupira). 
     A outra experiência, foi com o 8º ano, eles viviam cobrando aulas de campo, uma vez que moramos em uma Reserva Extrativista com intensa relação com a natureza. Aí nós fomos analisar o livro de geografia e ver as propostas a partir dos temas dos capítulos do livro. E a conclusão que chegamos foi a que a trilha seria a melhor opção, pois viríamos a vegetação local, alguns aspectos de relevo, fauna, potencial econômico para o turismo e para ter um contato maior com as trilhas possíveis e existentes. Então, o produto da trilha, em que tiramos fotos, descansamos, vimos animais e paisagens lindas, era exprimir um pouco disso tudo em um fanzine. O 8º ano caprichou e saiu um maravilhoso trabalho. A Trilha de Areia, A Trilha da Meia Hora e a Trilha do Muricizal. O trabalho também foi feito com o 9º ano, que inclusive já haviam tido uma experiência em construir fanzine com o pessoal da UFC que tinha vindo na escola com a professora Angela Linhares pela disciplina de didática. Os alunos apresentaram algumas religiões mais antigas através dos fanzines. Foram apresentadas as religiões: Islamismo, Cristianismo, onde ambas foram apresentadas em suas modificações ou atuais divisões a partir das interpretações de novos líderes.
O 6º ano não quis ficar de fora e também fizeram sobre as crianças negras, em suas brincadeiras, aprendizados, comidas que em tudo é igual a qualquer outra criança, mas, que geralmente não estão igualmente representadas nos livros e revistas que vemos, nem na TV, então teriam papel central em nossos fanzines. 
Até aqui todas as turmas do Fundamental II, minhas turmas, já haviam feito o fanzine, mas o 7º quis ir mais além, fizeram os personagens importantíssimos do nordeste e que são negros, e colocamos de forma mais intensa no mês de novembro, o mês que devemos refletir sobre nossa igualdade e passar a agir e perceber se de fato a sociedade tem visto e agido com tal visão. Pois, também para nós, "ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar. (Nelson Mandela Long Walk to Freedom, 1995). 
     Em uma aula de Ensino Religioso, assim que os alunos do 8º anos entraram na sala entreguei um fanzine (ou cópia) para cada aluno, e pedi para que respondessem as seguintes perguntas: Descreva algum dos autores desse fanzine, como ele é no dia dia da escola ou na comunidade, o que você acha desse fanzine, que mensagem ele transmite e o que poderia ser melhorado. A análise foi muito produtiva e até alunos que geralmente nunca fazem atividade em sala, fizeram e entregaram a análise. As respostas foram muito sinceras e responsáveis.
     Estávamos há um dia para ter o lançamento dos fanzines, mas eram poucas as obras em relação à quantidade de alunos que estariam vendo pela primeira vez, as outras turmas. Não havíamos conseguido cópias, pois a impressora da escola não tirava copia boa e nem frente e verso, porque sempre cortava um pedaço. Então o 8º ano na aula de Ensino Religioso fizeram as últimas 6 obras em folha única, no modelo origami (aprendida nesse Vídeo) que poderia ser copiada e dobrada com facilidade e então conseguimos ter mais de 60 obras entre cópias e originais para que todas as crianças conseguissem tocar, ler e admirar as obras dos alunos escritores. 
     Foi uma experiência magnífica, ver tanto a alegria e o orgulho dos alunos vendo suas obras sendo admiradas, quanto ver o interesse dos alunos em analisar as obras. 
     Essa experiencia foi a motivadora do texto que antecede esses relatos, ou seja, os alunos querem ver que o que fazem é importante não só para o futuro deles, mas agora, now!!!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O caso de Dudley e Stevens. O que você faria??

Sextant é do navio Mignonette que naufragou em 1884 no Atlântico Dois membros da equipe mataram o garoto da cabana e comeram sua carne e beberam o sangue Eles inscreveram a caixa do sextante com coordenadas para ajudar outras pessoas a encontrá-las Foi comprado por £ 37 em 1973 e agora está pronto para vender por £ 1,500 no leilão  Por  Martin Robinson para MailOnline PUBLICADO:  15:21 GMT, 22 de outubro de 2015  |  ATUALIZADO:  00:36 GMT, 23 de outubro de 2015 Um colecionador que comprou uma antiguidade náutica por £ 37 poderia fazer uma fortuna depois que surgiu, veio de um navio onde a equipe acabou comendo o garoto da cabana. O sextante era do iate Mignonette, cujo homem naufragava no Atlântico Sul em 1884 e cometeu o último caso de canibalismo na história naval britânica. O comprador do instrumento de navegação marítima, de Wiltshire, comprou-o em Adelaide em 1973 e levou-o de volta para a Grã-Bretanha. Depois de descobrir uma mensagem manuscrita em seu caso rev

Lei 10.639 na escola Bom Jesus dos Navegantes.

Comecei a dar aula para ensino fundamental (anos finais) em 2017. Em abril falamos vários assuntos sobre a cultura e a resistência indígenas perante a sociedade brasileira, que criou uma imagem negativa e pejorativa, dizendo que eles se recusam a aderir o tal "progresso" (palavra que tem tentado substituir os termos exploração e destruição da natureza).      Em novembro fizemos (6° e 7° anos) fanzines sobre os grandes nomes da história nordestina que eram/são negros e também da representatividade de crianças negras nos meios de comunicação (revistas,  livros, comerciais, etc).      No início de 2018 eu comecei a participar da organização da Jornada de Povos indígenas realizada por várias universidades e instituições no estado do Ceará. Não consegui acompanhar a organização do evento e muito menos contribuir efetivamente,  mas a reunião que participei e os debates no grupo do whatsapp me possibilitaram visualizar uma ação concreta com meus alunos e assim comecei a planejar