Existia um lugar onde não precisava trabalhar todos os dias. Havia comida farta e a família era o tesouro mais precioso que existia. O cacique era o pai de todos e decidia sobre o destino de sua família. Todos sabiam que era a mãe natureza quem dava alimentos e vida para cada pessoa e por isso respeitavam muito tudo que havia na natureza.
Depois de muito tempo de paz e alegria e muita saúde, chegaram pelo mar, umas criaturas com coisas que nunca imaginávamos existir. Eles usavam panos estranhos para cobrir o corpo e até a cabeça. O que também não imaginávamos era que eles tinham um poder de destruição muito grande. E eles também não comiam os alimentos que a mãe natureza dava, ele produziam outras coisas que parecia que não era nada saudável.
As coisas que eles traziam eram capazes de matar nossos melhores caçadores apenas com um barulho. Então tivemos que trabalhar para essas criaturas estranhas para que não matassem mais nossos familiares.
Mas sempre tentávamos nos libertar daquela vida de escravidão. Trabalhando 18 horas todos os dias e sendo obrigados a destruir a nossa mãe natureza. E por causa de nossa rebeldia e fé que seríamos libertos com a ajuda da mãe natureza, eles começaram a trazerem pessoas da África para serem os escravos. Eles não vinham em grupos de mesma língua como nós. Para nós era mais fácil nos organizar e fugir ou lutar. Apesar que sempre matavam os que conseguiam. Só que eles não queriam matar, porque começamos a ser vendidos como animais para o trabalho.
Aquelas criaturas que foram aprendendo a falar nossa língua e foi ensinando nossas crianças a pensarem como eles, a achar normal destruir a natureza para acumular coisas que nem eram importantes, como aquelas pedras da cor do sol que eles festejavam quando encontrávamos alguma para eles. Ensinaram nossas crianças outras crenças que não eram a nossa que valoriza acima de tudo a família e a natureza.
Fomos matando aos poucos a mãe natureza, retirando dela todo seu poder e com isso também fomos nos enfraquecendo. Aquele paraíso que não precisávamos trabalhar todos os dias e tínhamos comida e caça fartas não existia mais. Passamos a viver na pobreza. Tínhamos que de alguma forma fazer o que eles queriam se quiséssemos comer e dar comida para nossa família, pois só eles tinham em seus estoques a comida que precisávamos minimamente para sobreviver. Mas ainda que ensinaram outros costumes para nossas crianças, conseguimos resgatar a educação de algumas e elas garantiram por mais uma ou duas gerações o ensinamento de nossos costumes e nosso respeito à família e à natureza. Mas enquanto mais optávamos por nossa tradição, mais excluídos éramos daquela sociedade que criava uma outra riqueza que não tinha nada haver com a valorização da família e da mãe natureza.
Os irmãos vindos da África também sofriam essa exclusão. Eles também começaram a resgatar o que sobrou de suas crenças e seus costumes. Mas a exclusão aconteceu ainda pior com eles que eram de outro país. Entre outras coisas que tínhamos que nos adaptar para conseguir sobreviver a tanta exclusão, para representar o nosso compromisso de amor a família, a nossa aliança usada no dedo era feita de coco. As criaturas que chegaram do mar faziam esses anéis de algum material brilhante. Parecia as pedras da cor do sol, mas eram mais brilhantes. Mas nós, o que conseguíamos era fazer do coco tucum.
Passados uns tempos, alguns dos filhos daquelas criaturas começaram a nos ajudar. Nos ajudaram a valorizar a nossa espiritualidade, mas provaram que a religião deles, no fundo queria o nosso bem. Nos ajudaram com as tais leis, que dão ou tiram o direito das pessoas possuirem a terra para produzir. Nos ajudaram a sermos aos poucos incluídos naquela sociedade que sempre nos excluiu. Claro que ainda não somos vistos com os mesmos direitos pela cabeça de muitos. Mas agora já sabemos como ir conseguindo recuperar o respeito à mãe natureza que faz parte da nossa vida e dos nossos direitos.
Assim, toda vez que você ver alguém com um anel de coco, o anel de tucum, essa pessoa está se comprometendo a fazer uma aliança para resgatarmos juntos a valorização à família e à mãe natureza.
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